Cidades coloniais do Chile: um passeio pela história e arquitetura

O Chile, com mais de 278 anos de dominação espanhola (1540-1818), preserva um patrimônio arquitetônico colonial extraordinário que reflete os diferentes períodos de conquista, evangelização e desenvolvimento econômico. As cidades coloniais chilenas não são simplesmente acumulações de edifícios antigos – são repositórios vivos de história, narrativas de resistência indígena, testimonianza de catástrofes naturais, e exemplos notáveis de adaptação arquitetônica às condições geográficas extremas. Um passeio por essas cidades é uma viagem através de séculos de transformações culturais, onde cada pedra, cada pilar de madeira e cada fachada conta histórias de conquista, fé, comércio e sobrevivência.

O Legado Arquitectónico Colonial Chileno

Características Gerais da Arquitetura Colonial

A arquitetura colonial chilena é marcada por influências espanholas profundas combinadas com adaptações necessárias às condições climáticas e sísmicas únicas do território. O conquistador Pedro de Valdivia, seguindo as políticas fundacionais da coroa espanhola, estabeleceu cidades seguindo um padrão urbano regular conhecido como “trazado en damero” (em forma de tabuleiro de xadrez), com uma plaza central ao redor da qual se distribuíam os principais edifícios administrativos, religiosos e residenciais.

Os edifícios coloniais chilenos se caracterizam por:

  • Cimientos enormes e pilares robustos: Necessários para resistir aos terríveis terremotos que frequentemente devastam o país
  • Materiais locais: Adobe no norte e centro, madeira (especialmente alerce e ciprés) no sul
  • Fachadas continuas: Casas adjacentes formando ruas coesas, característica típica das cidades espanholas coloniais
  • Corredores e varandas: Espaços sombreados que oferecem proteção contra o clima
  • Patios interiores: Espaços multifuncionais onde se misturavam aspectos da vida doméstica, comercial e social

Um elemento arquitetônico peculiar é o “rancho de los temblores” (cabana dos tremores), uma construção rústica de madeira construída precariamente que as famílias mantinham preparada para se abrigar em caso de terremotos cataclísmicos. Embora pareça um paradoxo, esses terremotos devastadores, quando destruíram completamente as cidades (como ocorreu com Santiago em 1647), impulsionaram novas fases construtivas onde foram escolhidos materiais mais cuidadosamente e implementados elementos estruturais inovadores.

Santiago: O Berço da Colônia

Plaza de Armas: Epicentro do Poder Colonial

Plaza de Armas de Santiago é o coração histórico da cidade, fundada pelo conquistador Pedro de Valdivia no 12 de fevereiro de 1541. Seu trazado foi cuidadosamente planejado pelo alarife Pedro de Gamboa, o primeiro urbanista da colônia, seguindo o padrão espanhol de colonização que havia funcionado com sucesso em outras regiões da América.

Originalmente, a praça funcionava como um campo de treinamento militar (plaza de armas) e centro estratégico para a expansão da conquista. Rapidamente, porém, transformou-se no verdadeiro núcleo administrativo, comercial e social da capital colonial, quando os principais edifícios institucionais foram construídos ao seu redor.

Os edifícios mais importantes que definem a Plaza de Armas incluem:

  • Catedral Metropolitana (construída 1748-1775)
  • Cabildo (Prefeitura, construído em 1578)
  • Mercado de Abastos (1600)
  • Palácio de la Real Audiencia (tribunal colonial)
  • Casa del Gobernador (residência do governador)

Catedral Metropolitana de Santiago

A Catedral Metropolitana é uma das joias arquitetônicas mais importantes do Chile. Embora a primeira construção de uma igreja tenha ocorrido conjuntamente com a fundação da cidade em 1541, o edifício atual que vemos hoje é o quinto construído no local.

A construção da catedral atual iniciou em 1748 e foi concluída em 1775, representando a transição entre o estilo colonial tardio e o neoclassicismo. A fachada foi redesenhada em 1748 sob a supervisão do arquiteto italiano Joaquín Toesca, que seria fundamental na renovação arquitetônica de Santiago no final do século XVIII.

O interior da Catedral é espetacular, com detalhes barrocos, ornamentação em mármol e vitrais multicoloridos que permitem à luz do sol criar atmosferas dramáticas no espaço sagrado. A Capilla del Sagrario (Capela do Sacrário), também desenhada por Toesca, é particularmente notável por sua refinada decoração.

Palácio de La Moneda: Transformação da Paisagem Urbana

Palácio de La Moneda (Casa de Monedas) representa a transição entre a arquitetura colonial propriamente dita e o neoclassicismo emergente. Construído entre 1786 e 1812, foi concebido originalmente como a sede da Real Casa de Moneda, explicando seu nome.​

Os planos originais foram aprovados pelo próprio Rei da Espanha, embora chegassem incompletos à América. O design original previa albergar toda a maquinária necessária para a fabricação de moedas. O arquiteto italiano Joaquín Toesca, que havia chegado ao Chile em 1780, foi responsável pela realização dessa obra monumental, uma das maiores construções empreendidas pelos colonos espanhóis no final do século XVIII e princípios do século XIX.​​

A importância do Palácio de La Moneda foi tão grande que deslocou a Plaza de Armas em importância como centro cívico da cidade, marcando o início de uma transformação urbana fundamental.

Igreja de San Francisco de Santiago

Igreja de San Francisco é o templo católico mais antigo de Santiago, com mais de 450 anos de história. Proclamada Monumento Histórico em 6 de julho de 1951, esta estrutura tem testemunhado o nascimento e transformação de Santiago desde o período colonial.

A história da Igreja de San Francisco começa no século XVI com os primeiros colonizadores espanhóis, que erigieron uma pequena ermita em honor da Virgem do Socorro, cujas imagem foi trazida por Pedro de Valdivia em 1540. A torre atual foi desenhada em 1857 pelo primeiro arquiteto chileno profissional, Fermín Vivaceta, representando já uma fase pós-colonial da cidade.

La Serena: A Cidade das Igrejas

Fundação e Traumas Coloniais

La Serena é a segunda cidade mais antiga do Chile, fundada pelo capitão Juan Bohón em 1544 com o nome de Villanueva de la Serena, em homenagem à cidade natal de Pedro de Valdivia na Extremadura espanhola.

A história de La Serena é une tragédia punctuada por momentos de renascimento – uma narrativa que marca profundamente seu caráter arquitetônico. Poucas semanas após sua fundação, indígenas locais destruíram a cidade e mataram seu fundador. Francisco de Aguirre refundou a cidade em 26 de agosto de 1549 sob o nome de San Bartolomé de La Serena.

Porém, os problemas estavam longe de terminar. A cidade estava localizada em uma rota estratégica para viajeros que percorriam a ruta terrestre entre o Perú e Santiago, o que a tornava tanto uma locação valiosa quanto vulnerável. Durante o século XVII, piratas ingleses tornaram-se uma ameaça permanente. Em 1680 e 1686, piratas ingleses liderados por Edward Davis se apoderaram de La Serena, submetendo-a ao saque, violência e incêndio. A frágil população local vivia sob constante terror de novas invasões, o que conspirou contra o desenvolvimento urbano e material da cidade.

Arquitetura Fragmentada: Contraste entre o Sagrado e o Secular

Devido aos traumas históricos e à insegurança permanente, La Serena desenvolveu uma caractérica arquitetura única: um contraste profundo entre as edificações religiosas e as civis.

As igrejas conseguiram alcançar aspectos de solidez e prosperidade, pois as ordens religiosas (especialmente os Jesuitas) acumulavam recursos através de funções crediticias que as instituições seculares não possuíam. As ordens religiosas, sendo entidades poderosas e centralizadas, tinham capacidade de mobilizar recursos e mão de obra para construções substanciais.

Em contraste, as construções civis permaneciam em estado de precariedad y abandono. Muitos residentes locais eram relutantes em permanecer em La Serena permanentemente, e grande parte dos excedentes das atividades econômicas mais rentáveis (mineração, agricultura) eram investidos fora da cidade, na capital Santiago ou diretamente no Perú.

Por essa razão, La Serena é conhecida até hoje como a “Ciudad de las Iglesias” (Cidade das Igrejas). A cidade abriga múltiplas iglesias notáveis de diferentes épocas, cada uma representando diferentes períodos de desenvolvimento e diferentes estilos arquitectónicos.

Valdivia: A Cidade Amuralhada do Sul

Importância Estratégica e Militar

A cidade de Valdivia, fundada por Pedro de Valdivia em 1551 como La Imperial, desempenhou um papel estratégico crucial durante todo o período colonial. Localizada numa região rica em madeira e recursos naturais, era um punto vital para resguardar o reino do Chile quanto todas as posições espanholas no Mar del Sur.

A zona de Valdivia era frequentada por frotas inimigas que buscavam se reabastecer após cruzar com sucesso o Estreito de Magallanes, criando oportunidades para estabelecer relações com comunidades indígenas – tanto comerciais quanto conflitivas. Essa importância estratégica levou à estrutura militar peculiar de Valdivia.

A Iglesia de San Francisco: A Edificação Mais Antiga do Sul

Igreja de San Francisco de Valdivia é a edificação mais antiga da cidade de Valdivia e uma das mais antigas do Chile. Foi encomendada pela Diócese de La Imperial no final do século XVI, por ordem do primeiro Bispo do Chile, Fray Antonio de San Miguel (1567-1583).

Seus principais valores históricos residem no fato de marcar o início da colonização eclesiástica do sul do país. Com sua construção, iniciou-se uma processo de evangelização de comunidades indígenas e a consolidação da presença vaticana no Novo Mundo.

A Igreja tem sobrevivido a terremotos cataclísmicos (notavelmente o terremoto de 1960), incêndios (incluindo um recente em 2013) e transformações urbanas contínuas. Seu interior foi completamente restaurado em 1977, lustrando uma figura nobre e moderna enquanto conservava valiosas peças de imaginería, vitrais e murais ornamentais. Um terceiro piso foi acrescentado em 1985.

Em 18 de julho de 2007, a Igreja e o Convento de San Francisco de Valdivia foram declarados Monumento Nacional pela categoria de Monumento Histórico.

Os Torreones: Vestigios da Cidade Amuralhada

Após sua refundação em 1647 (após destruição por terremoto e conflitos indígenas), Valdivia transformou-se numa cidade amuralhada. Durante os séculos XVII e XVIII, um processo permanente de aperfeiçoamento e renovação da muralla ou cerco ocorreu, impulsionado tanto por condições climáticas e geográficas quanto por requisitos da engenharia militar.

Como parte desse processo fortificador, dois torreones (torres defensivas) foram construídos no último quarto do século XVIII, considerados necessários para fortalecer dois pontos estratégicos e vulneráveis da cidade. Essas estruturas tinham duplo propósito: proteger a população e consolidar o avanço espanhol para zonas ainda sob domínio mapuche-huilliche.

Esses dois torreones foram declarados Monumento Histórico durante a segunda década do século XX. Embora hoje sirvam principalmente como postcards identificando a cidade, representam testemunhas materiais do militarismo que definiu Valdivia durante a colonização.

Materiais Constructivos Únicos

A arqueologia urbana de Valdivia revela um uso sofisticado de tijolos e telhas como materiais construtivos, refletindo tradições arquitetônicas específicas do período colonial tardio. O estudo de esses materiais revela diferentes fases urbanísticas e a evolução das técnicas construtivas ao longo de mais de dois séculos.

Castro (Chiloé): Palafitos e Arquitetura Insular

Fundação e Desenvolvimento

A cidade de Castro, capital da Isla Grande de Chiloé, não apenas é uma cidade colonial significativa, mas também representa uma adaptação única da arquitetura colonial às condições específicas de vida marítima e ao ambiente húmido do arquipélago.

Palafitos: A Arquitetura Distintiva

Os palafitos são construções únicas que parecem flutuar entre a terra e o mar, representando uma das expressões mais autênticas da cultura chilota. Estas casas de madeira (principalmente utilizando espécies nativas como o ulmo e o ciprés) estão emplazadas sobre um muelle com grossos pilotes.

A história dos palafitos remonta ao século XIX e princípios do XX, emergindo em resposta à migração do campo e ao deficit habitacional causado pelo auge de indústrias locais como a salmonicultura. Permitiram que as famílias vivessem simultaneamente da pesca/marisqueo e das atividades na terra.

Estrutura e Engenharia Adaptativa

A estrutura dos palafitos revela uma engenharia notável:

  • Os pilotes (tipicamente 20 cm de diâmetro, alcançando até 5 metros de comprimento) são fabricados com madeiras locais resistentes e frequentemente conectados com ensambles em forma de U
  • Os cimientos são enterrados aproximadamente 1 metro no solo e 1,6 metros sob a água, proporcionando estabilidade em ambiente marítimo dinâmico
  • Envigados e diagonais sustentam as terrazas e plataformas
  • As tejas de alerce cobrem as estruturas, protegendo contra a chuva interminable da Patagônia

A localização marítima oferecia benefícios práticos claros: acesso direto ao oceano para atividades pesqueiras, oportunidades para marisqueo (coleta de crustáceos) e uma separação clara entre a vida doméstica e as atividades produtivas.

A Resistência e Preservação

Durante décadas, os palafitos enfrentaram ameaças contínuas de incêndios, terremotos e políticas de erradicação urbana. No final dos anos setenta, bairros inteiros como Pedro Aguirre Cerda foram demolidos sob políticas modernizantes que viam os palafitos como obsoletos.

Porém, a resistência das comunidades locais e o reconhecimento crescente de seu valor patrimonial conseguiram frear a desaparição total. Hoje, os palafitos coloridos de Castro são não apenas símbolos turísticos, mas testimonianza viva de como as comunidades locais adaptam tecnologias ancestrales às exigências do meio ambiente natural.

Chillán: Mercados e Centro Comercial

O Mercado Municipal: Patrimônio do Comércio

Mercado Municipal de Chillán representa uma fascinante interseção entre história colonial e desenvolvimento comercial moderno. Aunque de arquitetura modernista (posteriormente remodelado), suas raizes encontram-se firmemente no período colonial.

Durante a Guerra da Independência do Chile, a área funcionava como ponto de abastecimento para as tropas patriotas que combatiam os Hermanos Pincheira e Vicente Benavides. Após o Terremoto de Concepción de 1835, a cidade de Chillán foi refundada em seu emplazamiento atual, absorvendo o terreno que havia servido como abastecedor militar.

Evolução do Comércio Ambulante

O desenvolvimento do mercado reflete a evolução da vida comercial chilena:

  • Até 1858: Funcionava uma feira de produtos apenas aos sábados, em La Recova, um espaço de troca traditional
  • 1858: A Municipalidade estabeleceu medidas que fizeram dos locais fronteiriços à Plaza Sargento Aldea (anteriormente Plaza de la Merced) o ponto de convergência de carretas que chegavam do campo. Simultaneamente, estabeleceu a primeira Recova formal neste local
  • 1877: Com o volume crescente de comerciantes, toldos foram instalados direto na praça, originando a Feria de Chillán

Chillán tornou-se uma das plazas comerciais mais importantes do sul do Maule, com a feria desempenhando papel decisivo. Ordinariamente, não menos de 400 carretas chegavam no sábado, frequentemente ultrapassando 2.000 carros carregados num único dia.

A Estructura Comercial Colonial

A organização do mercado refletia a especialização econômica da época:

  • Lado sul (antiga calle Talcahuano): Carretillas montañosas vendendo produtos da montanha
  • Parte oriente (calle O’Higgins): Móveis e artesanías
  • Diagonais: Vendedoras de retalho ou varejo
  • Frente ao Mercado: Tendales de causeos (produtos de couro), flores e outras mercadorias
  • Na Recova: Postos permanentes de sapatos, comidas, carnicerías, verduras e as famosas longanizas de Chillán
  • Nas portas: Vendedoras de plantas, roupas de mulher, frazadas de lã de excelente qualidade e cubrecamas bordados

Copiapó: Centro Minero Colonial

Importância Mineira e Evolução Urbana

Copiapó, localizada na Região de Atacama, representa um exemplo fascinante de como as descobertas minerais transformaram uma pequena colônia em um centro urbano importante.

Até início do século XIX, Copiapó era o centro urbano mais setentrional do território nacional, literalmente às portas do Despoblado de Atacama que separava o Chile da Bolívia. A cidade cobrou grande atractivo após o descobrimento do mineral de Chañarcillo em 1832, provocando uma crescente migração populacional de outras regiões do país, bem como de produtos e capitales.

Os novos yacimientos de prata e cobre transformarom Copiapó no enclave minero mais importante da época, especialmente durante o século XIX.

Patrimônio Arquitetônico

Copiapó preserva várias estruturas coloniais notáveis:

Catedral de Copiapó: Construída em madeira de pino Oregón e roble do Maule, foi inaugurada em 1851 e declarada Monumento Nacional em 29 de outubro de 1981. Seu design combina linhas clássicas com a beleza realçada por seu entorno, onde se encontra uma pequena plaza e um monumento a Juan Godoy (descobridor do mineral de Chañarcillo).

Igreja San Francisco de Copiapó: Uma construcción de 1872 com linha arquitectónica sóbria que expressa o sincretismo arquitectónico típico do início do século XIX.

Estação de Trenes de Copiapó (1854): Construída no setor de La Chimba, parte de um complexo que incluía bodegas e habitações para funcionários de ferrocarriles. O edifício central foi construído em madeira com tabiquería de caña e barro, combinando estilo colonial americano com elementos neoclássicos.

Arica: A “Manzana Eiffel”

Reconstrução Pós-Terremoto

A história arquitetónica de Arica é particularmente fascinante por sua fusão única entre o legado colonial e a modernidade europeia do século XIX. O terremoto e maremoto de 1868 destruiu completamente a cidade.

Quando chegou o momento de reconstruir, o Presidente do Perú (Arica era então peruana) José Balta tomou uma decisão revolucionária: contratar o famoso engenheiro e arquiteto Gustavo Eiffel (sim, o designer da Torre Eiffel em Paris) como urbanista responsável pela reconstrução.

A “Manzana Eiffel”

Eiffel projetou uma manzana (quadra) localizadas na primeira linha de mar, composta por três estruturas principais que representam a fusão extraordinária de engenharia europeia com o ambiente desértico chileno:

La Catedral de San Marcos (1876): Uma obra-prima de engenharia neoclássica, a catedral foi reconstruída por Eiffel com três plantas (sendo a central a mais alta), estrutura metálica recoberta de madeira, com ventanas em forma de ojiva contendo vitrais multicoloridos. Originalmente tinha cores amarelo, celeste, e hoje exibe cores de terra avermelhada e branca. A fachada é assimétrica, com a explanada que se abre para o porto, o oceano e o Morro, um majestoso penhasco que domina a cidade como símbolo de bravura e liberdade.

Edificio de la Ex Aduana (1871-1874): Construído como prefabricado em Paris e montado em Arica, este edifício destaca pela estrutura de tijolos brancos e vermelhos, com marquesina paraboloide de estrutura metálica e cobertura de madeira. Seu interior apresenta formas jônicas do neoclássico em colunas metálicas. Hoje funciona como Casa de la Cultura de Arica, sendo Monumento Nacional declarado pelo Decreto Supremo n.º 929 do 23 de novembro de 1977.

La Casa de la Gobernación: Também projeto de Eiffel, este edifício é testemunha de inúmeros eventos históricos e mudanças políticas. Originalmente desenhado para albergar as autoridades locales, sua arquitetura mescla elegantemente estilos coloniales e europeus. Possui techos altos e grandes ventanales que deixam a luz solar inundar cada canto, criando um ambiente aconchegante e majestico simultaneamente. Hoje identificado como Imóvel de Conservação Histórica (ICH) na Ordenança do Plano Regulador Comunal de Arica.

A Fusão Estilística

A Manzana Eiffel de Arica representa uma experiência arquitetônica notável: a intersecção entre a modernidade europeia do final do século XIX (com seu domínio da engenharia de ferro e estruturas metálicas prefabricadas) e o ambiente geográfico extremo do deserto chileno. Os amplos ventanales não eram apenas elementos estéticos, mas respostas práticas ao clima árido intenso, permitindo ventilação e proteção solar simultaneamente.

A Evolução Arquitectónica: Do Colonial ao Neoclássico

Uma transformação importante na arquitetura chilena ocorreu com a chegada do arquiteto italiano Joaquín Toesca em 1780. Toesca introduziu edifícios de alvenaria novos e tecnicamente mais complexos, marcando uma transição entre os estilos propriamente coloniais e os novos estilos emergentes como o neoclassicismo.

Suas obras principais incluem:

  • Renovação dos diques do Río Mapocho em Santiago
  • Construção do Palácio de La Moneda
  • Conclusão da nova Catedral Metropolitana de Santiago

Embora a arquitetura colonial tenha subsistido até bem entrado o século XIX, a transformação urbana que ocorreu a partir de meados desse século destruiu muitas edificações coloniais. O estilo das casarões coloniais buscou refúgio no campo chileno, onde ainda pode ser apreciado em haciendas e pueblos rurales.

Conclusão: Um Patrimônio Vivo

As cidades coloniais do Chile não são museus estáticos preservados em âmbar – são organismos vivos que continuam evoluindo enquanto mantêm suas raizes históricas. De Santiago, onde a plaza de armas colonial permanece como coração cívico da capital moderna, até Castro, onde os coloridos palafitos adaptem tecnologias ancestrales ao presente, essas cidades oferecem uma oportunidade única de experimentar como as comunidades humanas se adaptaram a geografias desafiadoras, desastres naturais cataclísmicos, e pressões políticas e econômicas em mudança permanente.

Caminhar pelas ruas de La Serena é compreender como a fé religiosa se manifesta em arquitetura enquanto a vulnerabilidade política se reflete em divisões sociais. Explorar as muralhas e torreones de Valdivia é testemunhar como o império espanhol respondeu a ameaças militares externas e resistência indígena. Visitar os portais neoclássicos de Arica desenhados por Eiffel é reconhecer como a modernidade técnica europeia se encontrou com a realidade do deserto andino.

Cada cidade colonial chilena é um palimpsesto arquitetônico onde camadas de história – pré-colombiana, colonial, republicana, industrial e contemporânea – coexistem, dialogam e se transformam permanentemente. Para o viajante atento, essas cidades oferecem lições não apenas de história e arquitetura, mas sobre a capacidade humana de adaptar-se, resistir e prosperar frente às forças da natureza e daa e da história.